Oficina 5 - Humor e discurso de ódio na política brasileira contemporânea
Resumo
Historicamente, a política foi e continua sendo uma fonte inesgotável para produções humorísticas. Há, inclusive, muitos que defendem que o “humor político” é uma importante manifestação da liberdade de expressão e, dessa forma, uma peça fundamental para a vitalidade da democracia e para a lisura de seus processos. Contudo, a instrumentalização do humor como forma de se fazer política, em particular, de um humor obsceno e agressivo (Freud, 2017), é um fenômeno relativamente recente; mais ainda, um fenômeno de certa forma insólito, tendo em vista que uma das marcas do discurso humorístico consiste justamente no tratamento não sério dos fatos (Possenti, 2020). Assistimos, assim, a uma considerável ampliação e intensificação na recorrência e no grau de agressividade das produções humorísticas no debate político brasileiro, um acontecimento que remonta à reconfiguração da vida política iniciada no âmbito das Jornadas de Junho de 2013. Particularmente depois do golpe parlamentar que removeu Dilma Rousseff do cargo da presidência e na disputa eleitoral de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro como seu sucessor, o humor agressivo, empregado como materialização do discurso de ódio, esteve cada vez mais presente no campo político, sobretudo, em contexto eleitoral. Refletindo sobre o poder agencial do discurso de ódio, autores como Piovezani e Gentile (2020) apontam para a ascensão de práticas e discursos de ódio contra minorias sociais como forma de consolidação de movimentos de extrema-direita em diferentes contextos, tal como ocorreu na Itália entre as décadas de 1920 e 1940 e, no Brasil, a partir da segunda década do século XXI. Esses e outros especialistas da “linguagem fascista” sustentam que seus recursos participam decisivamente da estética da extrema-direita e dos processos de aceitação e reprodução crescentes dos discursos de ódio e das práticas de violência que as sustentam. Uma das razões da eficácia do discurso de ódio consiste no fato de que partidários da extrema direita têm bastante sucesso na ampliação de suas ideologias por meio de suas narrativas e de suas maneiras de contá-las. O humor, assim, se destaca como uma forma discursiva eficiente, constante e, ao mesmo tempo, subestimada na construção e divulgação das ideologias da extrema-direita.. Diante disso, a proposta deste minicurso é depreender, descrever e interpretar as propriedades, as regularidades discursivas, as inflexões e os efeitos da presença do humor e do discurso de ódio no discurso político brasileiro contemporâneo. Para fazê-la, analisaremos falas públicas e memes produzidos pela extrema-direita brasileira no contexto político contemporâneo. Abordaremos seus principais aspectos tendo em vista o ensaio de Valentina Pisanty (2022) sobre a “risada fascista”, a fim de traçarmos um paralelo entre as semelhanças e divergências do humor fascista italiano do século XX e do humor fascista dos nossos tempos no Brasil.
Sobre os ministrantes
Myllena Araújo Nascimento (Lattes)
Doutoranda em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL - UFSCar), com ênfase em Linguagem e Discurso, em período sanduíche (2024-2025) na CY Cergy Paris Université, em Paris - França, com financiamento da FAPESP. Mestre em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING - UFPB), com ênfase em Linguística e Práticas Sociais. Graduada em Letras (Português) pela Universidade Federal da Paraíba. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP. Atuante nos grupos de pesquisa LABOR - Laboratório de Estudos do Discurso, VOX - Grupo de Estudos em Análise do Discurso e História das Ideias Linguísticas e Observatório do Discurso.
Filipo Pires Figueira (Lattes)
Licenciado em Letras, Mestre e Doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Membro dos Grupos de Pesquisa "Fórmula e Estereótipos: Teoria e Análise" (FEsTA/UNICAMP), "O Cotidiano na HIstória das Ideias Linguísticas do Brasil" (CoLHIBri/UNICAMP) e do "Laboratório de Estudos do Discurso" (LABOR/UFSCar). Atualmente, realiza estágio de Pós-Doutorado na UFSCar/São Carlos. Especialista em Análise do Discurso, interessado por questões de ordem teórica, mas também pelos campos de estudos do Humor, da Política e de Gênero.
Carlos Piovezani (Lattes)
Professor associado do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador do CNPq. Foi coordenador do PPGL/UFSCar entre 2013 e 2016 e coordena atualmente o Laboratório de Estudos do Discurso da UFSCar. Membro do conselho editorial de vários periódicos especializados, da Editora da ABRALIN e editor adjunto da Revista Acta Semiótica et Lingvistica. Fez graduação em Letras na UFMS/Dourados, mestrado e doutorado em Linguística e Língua Portuguesa na UNESP/Araraquara e estágio de doutorado na Universidade Sorbonne Nouvelle. Fez ainda pós-doutorado na Unicamp e na EHESS/Paris. Atua nas áreas de Análise do discurso, História das ideias linguísticas e Retórica. Financiadas pelo CNPq, pela CAPES ou pela FAPESP, suas pesquisas tratam da história da fala pública, do discurso político e de discursos da mídia. Foi professor convidado na EHESS/Paris e professor visitante na Universidade de Buenos Aires (UBA).