Minicurso 4 - Uma abordagem discursivo-midiológica da digitalidade: teoria, método e identidade editorial
Resumo
Nas duas últimas décadas, os estudos discursivos viram-se instados a incorporar em suas análises o que se tem referido como “questões de circulação”: o modo como os discursos circulam é visto, hoje, como constitutivo das discursividades. Isso levou à criação, por exemplo, de termos como “discurso digital”, que abrem para o entendimento de que um discurso coincide com suas formas de inscrição na dinâmica sistêmica em que se formulam e fazem sentido. Mas, considerando que os discursos são conjuntos de restrições semânticas indissociáveis de práticas socio-históricas, e considerando as questões que a virada das materialidades propõe para as ciências humanas, parece importante compreender que a digitalidade é uma lógica sistêmica que preside dispositivos nos quais os discursos se inscrevem, com efeitos variáveis; logo, um discurso não é digital (como não é impresso ou eletrônico), ele pode se produzir e distribuir em ambiente digitalmente organizado. Dessa perspectiva, importa levar em conta que as telas onde aparecem os enunciados não são um ponto zero, mas portais ou encruzilhadas; há um “da tela pra lá” e um “da tela pra cá”, onde usuários frequentemente desconhecem as formas de seleção e de agrupamento que se dão antes e alhures. Ou seja: a dimensão técnica da distribuição dos discursos suscita, incita ou evita disposições subjetivas. A noção de “mídium”, que supõe os dispositivos como mediadores, é uma formulação teórica e metodológica que enfrenta essa relação entre dispositivos e disposições via semiologia dos objetos técnicos. Dessa perspectiva, a digitalidade é mais do que um meio e certamente não é uma qualidade atribuível aos discursos, ela é uma condicionante da gestão do interdiscurso. O exame da materialidade dos dispositivos dá a ver de que modo as instituições discursivas os afiançam e por eles são afiançadas, e é esse duplo corpo do mídium que será apresentado neste minicurso. No primeiro dia, através da exposição metodológica da teoria, no segundo dia, através de um exercício de análise conjunta das materialidades empregadas pela editora Darkside® Books para constituir sua identidade como “a maior editora de Horror do Brasil”.
Sobre os ministrantes
Luciana Salazar Salgado (Lattes)
Professora Associada, trabalha no Departamento de Letras da UFSCar. É graduada em Letras (Francês e Português) pela FFLCH/USP (1992), licenciada em Língua Portuguesa pela FE/USP (1994), tem especialização em Comunicação de Marketing pela ESPM/SP (1995), é mestre em Educação (área de concentração: Ciência e Linguagem) pela FE/USP (1998) e doutora em Linguística (área de concentração: Análise do Discurso) pelo IEL/Unicamp (2007). Em seu segundo pós-doutoramento (2017-2019) trabalhou no Fundo Milton Santos, no Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP; no pós-doutoramento desenvolvido no Departamento de Linguística da FFLCH/USP (2008 e 2010), estudou as políticas federais de formação de neoleitores. Trabalhou com projetos de editoria no núcleo técnico Confraria de Textos (1999-2010) e tem experiência em edição de textos, com ênfase em projetos coletivos e assessoria para coleções, tanto nas atividades executivas quanto nas de pesquisa e análise. Atualmente estuda mediação editorial, materialidades da cultura e hiperdigitalidade, com atividades ligadas ao LABEPPE - Laboratório de Escritas Profissionais e Processos de Edição (CEFET-MG, UFSCar), que abriga, sob sua coordenação junto com Prof. Dr. José Muniz Jr., o Grupo de Pesquisa Comunica - Inscrições Linguísticas na Comunicação (UFSCar/CEFET-MG, CNPq). Participa do Observatório da Literatura Digital Brasileira (UFSCar, CNPq) e é membro do Instituto de Pesquisa FEsTA: fórmulas e estereótipos, teoria e análise (IEL, Unicamp). Na UFSCar, atua nos Programas de Pós-graduação em Linguística e em Estudos de Literatura; no IEB/USP, atua no Programa Multidisciplinar em Culturas e Identidades Brasileiras. Participa, desde 2020, da coordenação do GT ANPOLL "Discurso, trabalho e ética".
José Victor Rodrigues de Andrade Messias (Lattes)
Mestre em Estudos de Literatura com ênfase em Literatura, Linguagens e Meios, pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura (PPGLit/UFSCar-São Carlos). Bacharel em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar - São Carlos). Membro do grupo de pesquisa Comunica - Inscrições Linguísticas na Comunicação (UFSCar/CEFET-MG, CNPq), grupo esse que faz parte da rede de pesquisas do Laboratório de Escritas Profissionais e Processos de Edição - LABEPPE (UFSCar - CEFET MG). Atuou como pesquisador com bolsa PIBIC/CNPq e com bolsa FAPESP, protocolo: 2020/10767-0. Atualmente atua como apoio técnico do GP. Também é idealizador do subgrupo de leitura Comunikids, o qual coordenou junto da Bac. Mariana Santos (UFSCar). Entusiasta dos estudos editoriais, estudos góticos e sobre o horror, tanto literário quanto cinematográfico.