Minicurso 3 - Hýle e noûs: o impacto dos hábitos linguísticos no pensamento
Resumo
O minicurso é destinado à discussão acerca das relações entre linguagem e pensamento, a partir do pressuposto de que estas tendem mais à cristalização de hábitos mentais decorrentes de hábitos linguísticos do que propriamente a uma determinação. Com base em uma revisão de literatura, partimos da ideia de que o ponto nevrálgico dessas relações está naquilo que cada língua obriga o falante a dizer e não naquilo que permite. De modo que a maior recorrência daquilo que obrigatoriamente deve ser dito contribua para o desenvolvimento de uma base correspondente de percepção e interpretação dos estados de coisas. No entanto, para que os hábitos linguísticos cristalizem os hábitos mentais, o falante deve enunciar, e, para enunciar, pressupõe-se um conjunto de saberes previamente cristalizados que, por sua vez, se expressam na manifestação hilética da linguagem. Vale ressaltar que as correlações não necessariamente implicam em causalidade. Tudo depende da intermediação cultural predominante em cada comunidade linguística. Fica claro que, ao contrário daquilo que a tradição metafísica defende, a língua materna não impõe quaisquer limites ou restrições intelectuais ou prejuízos na interpretação de conhecimentos desenvolvidos a partir de outras línguas. As razões pelas quais um sistema de signos se alicerça em determinados termos obrigatórios e outros opcionais podem variar das condições ambientais às crenças religiosas, das tradições locais aos meios de subsistência etc. Do mesmo modo, a língua materna pode ser o fator determinante. O fato é que as convenções culturais constantemente vestem a máscara da natureza e se nos apresentam como “universais” e assim as concebemos simplesmente pelo fato de que não nos ocorre olhar o que há por trás da máscara.
Sobre o ministrante
Daniel Perico Graciano (Lattes)
Doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. É membro do grupo de pesquisa VOX - Grupo de Estudos em Análise do Discurso e História das Ideias Linguísticas, do grupo Labor - Laboratório de Estudos do Discurso e do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Semiótica da Universidade Federal de São Carlos. Realizou estágios de docência no curso de Linguística, sob supervisão da professora Mariana Luz Pessoa de Barros e do professor Carlos Félix Piovezani Filho. Foi bolsista de Mestrado da CAPES com a pesquisa “Os Dentes Elétricos dos Canibais: uma cartografia dos fluxos semióticos na canção de resistência da década de 1960”.